10 de dezembro de 2007

Pra dormir, ou pra curtir?

No último dia 8, no teatro da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Recife teve o privilégio de receber o cantor e compositor mineiro, João Bosco, em sua turnê de divulgação do álbum “Obrigado Gente!”, gravado ao vivo, em comemoração aos seus 30 anos de carreira. Ele voltou a cantar grandes sucessos. Até então, tudo bem, um grande compositor, em um grande show, com uma platéia maior ainda... se não fosse o “ar de banzo” que dominou toda a apresentação dele.

Depois da terceira música, ouvia-se o grito “Papel Machê!!”, era uma senhora, pedindo uma das mais conhecidas, mas nem a risada de todos presentes no teatro, animou o clima da apresentação.... Apresentação? Sim, costumo dizer que existem shows e apresentações. Shows acontecem quando o artista (lidando com arte, ou não) interage osmoticamente com a platéia, ou seja, os espectadores fazem parte do evento. As apresentações acontecem, para mim, como uma exposição de quadros de Von Gogh, um silêncio total, e cada um que veja uma árvore onde Von Gogh gostaria de mostrar um carrossel. São formas diferentes de expor a arte, e nenhuma delas está errada. Mas acredito que metade das pessoas que foram na apresentação de João Bosco no último dia 8 do teatro da UFPE, não foram com intuito de ver uma apresentação, e sim um show. Ou ao menos tivemos um grande percentual de pessoas que não conhecem exatamente o trabalho dele, desta forma entendemos o por que de gritar entre uma musica e outra, já que ele não gosta muito disso. A verdade é que vi pessoas dormindo. Não para mim... Juro que gostei do show! Musicalmente foi perfeito... Solos desconcertantes, como a própia música do cantor Mineiro. Os solos de bateria (Kiko Freitas) eram tão reais quanto a falta de presença (ou paciência) de palco do compositor, a diferença é que a bateria produzia sons maravilhosos, e o sorriso sem palavras nem sons dele eram barulhentos demais para quem achou que ia sair maravilhado de lá.


Fui ao banheiro durante a apresentação e percebi que uma mulher reclamava grosseiramente com um segurança: “por que não dá play nesse troço??”. Ela estava no bar do teatro, olhando um DVD de Seu Jorge e Ana Carolina, ”arretada” com o show: “Eu tava quase dormindo lá dentro, chego aqui esse dvd está no menu... Assim não dá meu filho.... Dê logo um play vá!”


È... O clima estava pesado no bar... Já no camarim, o clima era de total “leveza”. A produção estava impecável (CBS Produções). Tinha um segurança atrás das cortinas do palco, que parecia não estar muito feliz por estar lá. Tudo bem que os seguranças não precisam estar distribuindo sorrisos, mas depois que ele discretamente bocejou, percebi um certo sono nele também. Tinha gente na platéia realmente empolgada com a musicalidade do quarteto, mesmo que por várias vezes João Bosco estivesse de costas para o público. Pessoas aplaudiam muito cada solo de guitarra, baixo e bateria, até os que estavam dormindo. Acho até que, depois dos primeiros aplausos apareciam vários outros, possivelmente quando começavam os primeiros, os que roncavam acordavam para acompanhar a metade empolgada. Um dos produtores do compositor, quando percebeu minha presença no palco, ao lado das cortinas, me olhou como se fosse perguntar algo do tipo: “quem é você? O que está fazendo aqui?”. Mas acabou ficando só no olhar, do tipo: “deixa pra lá... ta tão bom aqui sentado...”.


No final, quando ele finalmente tocou “Papel Machê”, depois de contados cinco pedidos da mesma senhora, (a senhora que disse que o amava, gritando. Não se empolguem, só ela fazia isso) e aproximadamente uma hora e meia de apresentação, ele foi embora, direto para o seu camarim, e nem ouviu (ou não fez questão de ouvir), a mesma senhora e mais umas cinco pessoas pedindo para ele voltar, depois que 99% da platéia já estava na escadaria do teatro, lá fora. Ele partiu rapidamente sem falar com ninguém. Nem mesmo comigo que fiquei na frente dele, tentando mostrar que apesar de todo o sono... Eu adorei o show!