28 de maio de 2007

Quem você ressuscitaria?

Em recente pesquisa feita na Inglaterra (a terra das pesquisas), o pintor, escultor, arquiteto, inventor, escritor (será que esqueci algo?), Leonardo da Vinci, ocupou o topo de uma lista de figuras históricas que deveriam ressuscitar. Realmente um bom exemplo dado pelos Ingleses para tal acontecimento, pois, mesmo que ele não tivesse que tentar inventar o avião (como tentou por várias vezes) de novo, Leonardo em sua genialidade (na versão 2 - ressuscitado), com certeza se adaptaria a esse mundo.

Mas e aqui no Brasil? A nível Tupiniquim... quem deveria ressuscitar?

É inevitável não pensar em gênios brasileiros das artes... Temos gênios em todas as artes sim! E muitos em várias artes ao mesmo tempo. Quem ressuscitaríamos? Luiz Gonzaga por exemplo seria um bom nome, a simplicidade que o mestre “Lua” ia ensinar a muitos artistas hoje seria interessante de se ver. Quem sabe Vila Lobos? E a sofisticação do erudito brasileiro? Sim! Temos Aleijadinho e seus apóstolos. Machado de Assis, Manoel Bandeira, Castro Alves cuidariam da representação poética, juntamente com grandes cordelistas nordestinos como Apolônio Alves, José Pacheco, João Martins de Athayde (entre outros:
http://www.ablc.com.br/). Com certeza Elis Regina continuaria levando milhares para seus shows, ela mais parece fazer parte de uma “eterna vanguarda”. Tim Maia continuaria cheirando muito "chocolate". Seria sonho ver Renato Russo, Cazuza e Cássia Eller juntos em um palco? Um punk-melodico-bossa-rock-brasileiro daqueles! Grande Otelo seria um bom inicio para as telonas, juntamente com Oscarito, muita gente ia rir muito.

Raul Seixas voltaria e diria: “O dia em que a terra parou!”. Tarde de Autógrafos na Livraria Cultura com Érico Veríssimo, Paulo Francis, Mário de Andrade e o “safado” Nelson Rodrigues.
Noel Rosa, Pixinguinha e Cartola montariam uma produtora de "serestas e boemias"!

E os Modernistas?
A antropofagia de Di Cavalcanti, Carlos Drummond de Andrade, Antonio Gomide, Alberto Santos Dumont, Tarsila do Amaral e o maravilhoso Cícero Dias nos dias de hoje se ressuscitados... revelariam, como nossos políticos são antropofágicos. E a Bossa? Nem tão nova.. mas velha também não! A cultura elitista brasileira não deve ser esquecida! Músicas realmente belas, singelas e carinhosas mostraram que a nossa elite tinha virado “gente grande”, e não dependia mais do Blues, nem do Jazz importado! Sim nós tivemos Tom, Vinicius de Moraes, Baden Powell... “vai minha tristeza, e diz pra eles, que sem eles não pode ser”. “Atenção, Atenção! Noite “Bossanovista” na praia de Copacabana com os ressuscitados...” Seria legal né?

Jackson do Pandeiro em show apresentado por Chacrinha, poderia se juntar a Chico Science e Bezerra da Silva aqui no Recife para relembrar os tempos de “pirraia”.

Se fizéssemos uma pesquisa aqui no Brasil? Quem seria ressuscitado?
Se tivéssemos que ressuscitar o passado para ajudar algo para o presente e consequentemente o futuro... Então o que aprendemos em todos esses anos? Melhor seria inventar pílulas de “anti-oxidação” para personagens como Lenine, Ariano Suassuna, Rita Lee, Jorge Ben, Jô Soares, Paulo Coelho, Chico Buarque de Holanda, Caetano, Gil, Oscar Niemeyer...

10 de maio de 2007

D2! Mas mantenha o respeito!


A familia da cantora Elizeth Cardoso entrou com uma queixa-crime contra Marcelo D2.
Por que?

Em seu último cd, D2 usou na faixa "é preciso lutar", trecho de uma música interpretada pela cantora. Estive ouvindo a musica (na versão D2), é a "Cidade Vazia" de Baden Powel e Lula Freire. Na verdade não é a musica, mas sim um sampler com a voz de Elizeth cantando "Há um momento na vida/em que é preciso lutar", e a queixa da familia não é por uso indevido da obra, já que tudo foi feito dentro das leis ("gravadorescas") normais. Andei me informando, e percebi que o problema da familia é com o sampler, que deixou a voz da cantora parecendo com a do "Tio Patinhas", segundo o neto dela.

Particularmente eu não achei parecido com o pato mais conhecido do mundo não, escutem e tirem suas conclusões: http://musica.busca.uol.com.br/radio/index.php?ref=Musica&busca=%E9+preciso+lutar&param1=homebusca&q=%E9+preciso+lutar&check=musica

Paulo César Valdez Jr ( o neto) , diz que é uma falta de respeito com a memória da avó. Mas sinceramente, ficou legal, e essa história de dar o aval e depois querer punir de alguma forma, ta parecendo com um outro recente caso de um certo REI que conseguiu tirar sua biografia das livrarias. Se virar moda, vamos ter produtos com “edições limitadas” em todo país, onde o dono libera, e depois corta. Seria marketing?

Sendo marketing ou não, a música de D2 não ofende a cantora, isso é muito pouco para abalar um vozeirão delicado como o de Elizeth Cardoso. Tenho certeza que esse sampler alimentou a vontade de muitos que não conheciam a cantora, a ouvi-la.
Quanto ao livro do Rei...
Alguém aí comprou ele?
Tava querendo uma cópia!

“O chão do Recife afunda um milímetro a cada gole”


Pernambuco, inicio dos anos 80, Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, depois de montar uma loja de discos com um amigo para poder ouvir os LP´s importados, reconhece a potência da música brasileira e em especial, percebe como a cultura de sua terra natal, faz da música produzida um alto-falante cultural que grita poesia para o resto do mundo.

Esse hoje cantor, compositor, arranjador, músico e produtor, com 17 anos conquistou o mundo quando foi ao Rio de Janeiro ver o nascimento de seu filho e acabou ficando por lá para conquistar seu espaço, o mesmo espaço que faltava na terra do mangue, até por que, Pernambuco não era a “Terra do Mangue” ainda. O rapaz que no inicio dos anos 80, subia no palco com seus amigos e cheios de alfaias tocavam sem preconceitos e sem muita definição para o seu “barulho”, fazia uma afrociberdelia sem saber que se tratava de afrociberdelia. Depois de participar do festival MPB Shell em 1981, com a música “Prova de fogo”, de sua autoria, ele deu uma enorme caminhada para construção e definição de seu primeiro trabalho:“Baque solto”, em parceria com Lula Queiroga. Amargou alguns tempos difíceis para músicos como ele, passando alguns anos parado, até voltar em 1993 em dupla com Marcos Suzano, lançando “Olho de peixe”, seu segundo LP.

Daí em diante ele deitou e rolou com a “descoberta” de sua terra para o mundo por intermédio de Chico “O Science”, foi reconhecido como um “músico à frente de seu tempo”, mesmo concretizando em canção o dia-a-dia do brasileiro, defendendo a mistura de “eletricidade e acústica” e estilos musicais enraizados nos folclores e na cultura nordestina. Esse “cronista sonoro”, como ele mesmo se coloca, teve um sucesso considerado tardio, a nível nacional. Sua mulher é o Rio, e sua mãe é Pernambuco. Gravou um CD ao vivo em Paris e concretizou de vez sua carreira internacional mostrando para o Brasil a força da cultura Pernambucana na Europa, onde muitos artistas são mais reconhecidos lá, que cá. Em 2002 lançou “Falange canibal”, que foi distribuído em mais de dez países.

Hoje escuto Lenine em um CD acústico pela MTV, vejo seu show em DVD e me assusto com a capacidade do artista pernambucano. A sua capacidade de produção e variação, sua capacidade de composição criativa, simples e de sofisticação nos detalhes. Incrível como o dia-a-dia do nordestino mostra-se nas letras e melodias de Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, canalizada em uma só vertente-linha: coragem, sensibilidade, força, e, sobretudo, o peso carregado nas costas de um povo “compositor” de uma cultura berço dessa sociedade mestiça. Brasileira.

“Alzira bebendo vodka defronte da Torre Malakof
Descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole
Alzira na Rua do Hospício, no meio do asfalto, fez um jardim
Em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim?”

“Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior, me causa um efeito
De concha no ouvido, barulho de mar
Pipoco de onda, ribombo de espuma e sal”

Jackson Soul Rock Xote Baião Forró Jazz Brasileiro do Pandeiro


José Gomes Filho, 31/08/19, Alagoa Grande, Paraíba, família de artistas populares, apelido veio de uma semelhança com um artista de filmes de western dos anos 30 (Jack Perry). Jackson do Pandeiro ganhou o Brasil depois que foi ao Rio conhecer os jornalistas que falavam bem do seu trabalho no norte/nordeste, na época onde o comércio musical não era tão avassalador e injusto para artistas (falando em artista que faz arte). Aprendeu a escrever seu nome com sua primeira esposa que conheceu em Pernambuco no inicio dos anos 50, quando seu trabalho começou a aparecer para o País. "É uma pena, hoje em dia, ele não ter sua obra reconhecida como Luís Gonzaga", disse Alceu Valença, afirmando ainda que "Jackson era menos articulado, ingênuo... Não soube fazer os contatos que o mestre Lua fez."


Se para bom entendedor meias palavras bastam, para bons musicos José Gomes Filho basta para se entender de ritmo e MPB, como MPB deve ser vista. Por ter tocado em cabarés, ele conheceu o Jazz e não "abriu" nem para João Gilberto e sua Bossa Nova elitizada (quase americana), segundo Zé Ramalho: "Tinha uma grande voz, era uma espécie de João Gilberto do forró".

Um paraibano que ia do forró ao samba, fazia frevos, marchinhas, fazendo de sua voz um veiculo que transbordava cultura musical experimental nordestina, rica, única e sempre inovadora. Esse foi o maior influenciador de uma geração que ouvimos hoje como "Verdadeira MPB Contemporânea".

Tom Zé: "Temos hoje essa malandragem rítmica porque ouvimos muito Jackson quando éramos crianças"

Chico César: "Reinventou o samba e o coco. Eu, João Bosco e Lenine somos herdeiros dele"
Elba Ramalho: "Na minha opinião existem duas escolas de canto no Brasil: a de João Gilberto e a de Jackson do Pandeiro"

João Bosco: "Gravei uma música em homenagem a ele - Batiumbalaio - Rockson do Pandeiro. Coloquei Rockson porque achava que o som dele tinha muito de rock-and-roll"

Gilberto Gil: "Foi o primeiro grande codificador, o homem que trouxe os elementos da música nordestina para a música popular, para o disco, para o rádio, para os palcos das praças do Brasil"

Parabéns Cícero


Nascido no Engenho Jundiá, município de Escada, a 50 quilômetros do Recife, em 5 de março de 1907 e, bem cedo, mudando-se para o Rio de Janeiro começando sua vida artistica em um hospício, (onde foi sua primeira exposição individual). Esse Pernambucano chocou o Brasil com sua dinâmica e principalmente, seu desprendimento para com a arte tradicional que a Escola Nacional de Belas Artes impunha a seus alunos.


O modernista saiu da escola para conquistar o mundo, (principalmente Paris), com uma arte que ele afirmou uma vez em viagem ao interior pernambucano, que "quem estranha é o mal instruído, o burguês, mas o povo não", depois que suas telas chocaram a elite recifense lá pelo fim dos anos 20, quando voltou à sua terra.


"Eu vi o mundo, ele começava no Recife"


Cícero Dias - 100 anos (ainda de muita vida)

(Tela: O Porto - Cícero Dias)