10 de maio de 2007

“O chão do Recife afunda um milímetro a cada gole”


Pernambuco, inicio dos anos 80, Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, depois de montar uma loja de discos com um amigo para poder ouvir os LP´s importados, reconhece a potência da música brasileira e em especial, percebe como a cultura de sua terra natal, faz da música produzida um alto-falante cultural que grita poesia para o resto do mundo.

Esse hoje cantor, compositor, arranjador, músico e produtor, com 17 anos conquistou o mundo quando foi ao Rio de Janeiro ver o nascimento de seu filho e acabou ficando por lá para conquistar seu espaço, o mesmo espaço que faltava na terra do mangue, até por que, Pernambuco não era a “Terra do Mangue” ainda. O rapaz que no inicio dos anos 80, subia no palco com seus amigos e cheios de alfaias tocavam sem preconceitos e sem muita definição para o seu “barulho”, fazia uma afrociberdelia sem saber que se tratava de afrociberdelia. Depois de participar do festival MPB Shell em 1981, com a música “Prova de fogo”, de sua autoria, ele deu uma enorme caminhada para construção e definição de seu primeiro trabalho:“Baque solto”, em parceria com Lula Queiroga. Amargou alguns tempos difíceis para músicos como ele, passando alguns anos parado, até voltar em 1993 em dupla com Marcos Suzano, lançando “Olho de peixe”, seu segundo LP.

Daí em diante ele deitou e rolou com a “descoberta” de sua terra para o mundo por intermédio de Chico “O Science”, foi reconhecido como um “músico à frente de seu tempo”, mesmo concretizando em canção o dia-a-dia do brasileiro, defendendo a mistura de “eletricidade e acústica” e estilos musicais enraizados nos folclores e na cultura nordestina. Esse “cronista sonoro”, como ele mesmo se coloca, teve um sucesso considerado tardio, a nível nacional. Sua mulher é o Rio, e sua mãe é Pernambuco. Gravou um CD ao vivo em Paris e concretizou de vez sua carreira internacional mostrando para o Brasil a força da cultura Pernambucana na Europa, onde muitos artistas são mais reconhecidos lá, que cá. Em 2002 lançou “Falange canibal”, que foi distribuído em mais de dez países.

Hoje escuto Lenine em um CD acústico pela MTV, vejo seu show em DVD e me assusto com a capacidade do artista pernambucano. A sua capacidade de produção e variação, sua capacidade de composição criativa, simples e de sofisticação nos detalhes. Incrível como o dia-a-dia do nordestino mostra-se nas letras e melodias de Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, canalizada em uma só vertente-linha: coragem, sensibilidade, força, e, sobretudo, o peso carregado nas costas de um povo “compositor” de uma cultura berço dessa sociedade mestiça. Brasileira.

“Alzira bebendo vodka defronte da Torre Malakof
Descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole
Alzira na Rua do Hospício, no meio do asfalto, fez um jardim
Em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim?”

“Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos
Maior, me causa um efeito
De concha no ouvido, barulho de mar
Pipoco de onda, ribombo de espuma e sal”

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